Imagine dois meninos participando de um
campeonato de futebol na escola.
Do lado de fora o pai de um deles dá
bronca, xinga, grita, briga e não aceita qualquer erro do filho. No intervalo,
descontrolado, aponta tudo o que o filho fez de errado, e exige que ele melhore
o seu desempenho, porque se não o fizer, a bronca vai ser ainda maior.
Já o pai do outro menino, apesar de alguns
erros do filho, o incentiva o tempo todo, sinaliza que acredita nele, grita
palavras de apoio, e no intervalo enfatiza o que ele está fazendo bem, o ajuda
a enxergar o que pode melhorar, reitera o quanto acredita em seu potencial, e
que independente do resultado, ele sempre terá o seu apoio.
O primeiro pai adota a postura “Dunga” de
liderança, onde manda quem pode e obedece quem tem juízo, enquanto o segundo
pai prefere o estilo “Maradona”, permitindo que as pessoas façam o que precisa
ser feito por que assim o desejam.
Esta é a diferença entre poder e
autoridade.
Segundo Max Weber, autoridade é
a habilidade de levar as pessoas a fazerem sua vontade de bom grado por causa
de sua influência pessoal, e poder é a capacidade de obrigar
ou coagir as pessoas a fazerem sua vontade, por causa de sua posição ou força,
mesmo que elas preferissem não fazê-lo.
O poder pode ser comprado, vendido,
negociado, subornado, dado e retirado. Preferências pessoais, amizades, laços
familiares e interesses escusos podem colocar uma pessoa em posição de poder,
mas não podem dar-lhe autoridade.
Poder é o que você faz, autoridade é o que
você é.
Voltando ao exemplo dos meninos, qual dos
dois meninos você preferiria ser? Qual dos pais você preferiria ter ao seu lado
num jogo de futebol? Certamente o segundo.
Não importa o tipo de sua organização:
indústria, comércio, serviços, família, igreja, clube, ONG, condomínio ou
esportes, ela opera no ramo dos relacionamentos; elas só existem e acontecem
por causa das pessoas, e aí é que mora o perigo do abuso de poder; com o tempo,
ele compromete o principal negócio das organizações: os relacionamentos.
É por isso que modelos “Henry Ford” de
liderança não têm mais espaço nos dias de hoje.
Pensamentos como: “Pode ser de qualquer
cor, desde que seja preto” ou “Por que ouvir as pessoas e suas ideias se eu
apenas preciso delas do pescoço para baixo?” já não fazem tanto sucesso em
nossos dias. Esta cultura teve sua aplicação ao longo da História, mas o seu
tempo já passou. É por isso que o modelo “Dunga” de liderança não funciona, e
não funcionou.
Você pode estar pensando: “Mas a Argentina
também perdeu, portanto, o modelo de Maradona tampouco funciona”. A verdade é
que as derrotas também fazem parte do caminho do aprendizado. A derrota não
invalida uma boa liderança. Você se lembra de quando terminou o jogo do Brasil
com a Holanda, na copa de 2010, Dunga abaixou a cabeça e foi direto para o
vestiário sem conversar com seus jogadores, enquanto Maradona, após ser
atropelado pela Alemanha, ao final da partida caminhou em direção a cada
jogador, agradecendo e consolando um a um.
A autoridade é legitimada pela equipe,
estabelecendo a conexão entre líder e liderados, já o poder distancia o líder
de sua equipe. A autoridade reforça a confiança, enquanto o poder aumenta o
controle.
A autoridade permite que as pessoas
arrisquem mais porque sabem que um possível erro será usado como aprendizado,
já o poder inibe a criatividade porque as pessoas sabem que serão punidas por
seus erros. A autoridade traz maior confiança, controle e estabilidade
emocional à equipe, enquanto o poder desestabiliza e fragiliza as pessoas, e
foi justamente isso que aconteceu com nossa seleção.
O verdadeiro líder conhece a si mesmo e
está tão seguro de sua identidade que nada nem ninguém podem impedi-lo de
identificar e atender as legítimas necessidades de seus liderados,
conquistando, assim, a autoridade necessária para aumentar a confiança e
diminuir o controle sobre as pessoas, portanto, como líder, priorize a
autoridade.
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